Os kayapó se autodenominam mebêngôkre, etnônimo, cuja tradução ao pé da letra seria algo como “os que vieram (me bê), água (ngô), buraco (kre)”. Os etnógrafos deste povo, que não são poucos, traduzem esse etnônimo com base nas informações dadas pelos indígenas como “aqueles que vieram do buraco da água”. Essa afirmação torna-se misteriosa quando descobrimos que se o sentido do etnônimo mebengôkre tem como referência um buraco na água, o mito de surgimento dos kayapó narra como eles, que moravam no céu, conseguiram descer até a terra através de um buraco aberto por um guerreiro caçador em busca de um tatu canastra. Foi por esse buraco que boa parte dos mebengôkre desceram, enquanto outros ficaram presos no céu quando um menino travesso cortou a longa e forte corda de algodão usada para descer até a floresta. Os que desceram são os antepassados dos Kayapós atuais, já os que permaneceram no céu, dizem os velhos, viraram estrelas e quando brilham a noite lembram aos parentes de hoje como era a vida de antigamente.
Os Kayapó vivem em terras indígenas localizadas do sul do estado do Pará, ao norte do estado do Mato Grosso. Estão espalhados por diversas aldeias ao longo do curso superior dos rios Iriri, Bacajá, Fresco e de outros afluentes do caudaloso rio Xingu. Existem diferenças entre os vários grupos Kayapó decorrentes das cisões que originaram tais grupos. Os Kayapó da aldeia Môxkarakô, comunidade participante do projeto, estão situados em uma terra indígena localizada à região nordeste das terras indígenas kayapó, próxima à cidade de Redenção, e que possui cerca 3.284.005 hectares. Os Kayapó de Môxkarakô dividem esta terra com outros subgrupos kayapó.
A população total Kayapó é de 7096 pessoas (2003) e os Kayapó da aldeia Môxkarakô somam 437 pessoas (2009).
São falantes da língua Kayapó, pertencente ao tronco Macro-Jê, da família linguística Jê.
Hino Môjkarakô (Hino da Aldeia)
MÉBA KÍNH KUMRÉNH (2X)
MÝKÁM NÉ MÉBA KÍNH
MÓIKÁRÁ-KÓ AMÍRÍT NÉ KUMÉY
BÁ PÝTÁRÁ KADHÝ
NGÔ PÝTÁRÁ KADHÝ
PÝKA PÝTÁRÁ KADHÝ AMÍRÍT
MÓIKÁRÁ-KÓ (3X)
AMÍRÍT NÉ KUMÉY
MÉBA TÝÍ KUMRÉNH (2X)
MÝKÁM NÉ MÉBA TÝX
MÊBÊNGOKRÉ AMIRÍNÉ ARIBA
MÉBÉNHADHWÝRÝ KUNÎ
PÝKA KUNÎ KÔT MÉKUNI
MÊBÊNGOKRÉ AMIRÍNÉ ARIBA
MÊBÊNGOKRÉ MÉBA KUNÎ
PÝKA KUNI KÔT AMIRÍNÉ ARIBA
Hino Nacional Brasileiro - em língua Kayapó
MÉIKUKAMÃRE MÔRO DHÁ NÉ MÉIKUMRÉNH
KÁM MRÝMÉ KWÊIMÉ ÁK MÉ TÉP KUMÉTHI
KADHÝ MÉBÊNGÔKRÉ KUNÍ ITÝX KUMRÉNH
NÁM MÝT APÓI NÉ BÁ KURWÝ MÉITIRÉ
BIRI MÝKÁM MÉPRIRÉ KADHÝ
GÊARÊK MÉBAMÁ MÝ Ý YA YÁRÁÁ NÉ
MÝI NÉGA AMA, ORIGUMÉNHÝ, AKATI MÉ AKAMÁT KUNÎ KÔT, MARI
MÉBA DHU MARI MÉI KÁM MÉ KUNI KINH TIRÉ
BÁMÉIKÁM MÉUMARI MÉINÉ KÍNH KUMRÉNH
MÉNGRÉRE MÉBAYÔK MÉBA KUMRÉNH
DHUDHÊ MÉ KRUWA MÉ KUTÉ ABÉN PÝRÁK
MÉBA KUKRÁDHÁ DHWÝI KUNÎ ITÝX
ROP-Í MÉ NÁI MÉ KÓP MÉI KÔKANGÁYÁ KUBÊ
MÉBÊNGÔKRÉ KUNI NHÕ MÝ Ý YA
MÉBA NHÎTÝTHO PRÍ NÉ BÁ PYTÁRÁ
PÝKA MÉITIRE MÉBA KUNI AMIPUMÚ BADHUMARIMÉY
PÝKA MÉBÁ MÉITIRE NÓ
KÁM MÉ
AMÎMA
NÉ
UTÁ
Hino Nacional Brasileiro - traduzido
A terra dos nossos antepassados é abundante em caça, pássaros, aves e peixes diversos
Dela provém a força do nosso povo
O sol nasce iluminando a linda floresta
Lembremo-nos dia e noite que precisamos preservá-la pelo bem das nossas crianças
Vivemos em paz e somos felizes
Nossa paz e nossa alegria está em vivermos nesta bela mata
Preservando nossas músicas, nossas pinturas e enfeites, nosso arco e nossa flecha
Nossas tradições culturais são muito fortes
Rop'i, nành, kop, kô kangrà[1] pertencem tradicionalmente ao nosso povo
Com nossa coragem dominamos esta linda região da floresta
Vivemos em harmonia e paz
Conscientes da beleza desta terra, desta floresta por onde se estende nosso domínio
[1] Tipos diversos de bordunas.
Seu território é praticamente recoberto pela floresta equatorial, com exceção da porção oriental, preenchida por algumas áreas de cerrado. O território kayapó está situado sobre o planalto do Brasil Central, a aproximadamente 300 ou 400 metros acima do nível do mar. Trata-se de uma região preenchida por vales. Pequenas colinas com altitude máxima de 400 metros, frequentemente isoladas e dispersas sobre todo o território, espalham-se pelo planalto. Os grandes rios são alimentados por inúmeras calhetas e igarapés que, de tão pequenos, alguns sequer foram descobertos pelos brasileiros e tampouco receberam nomes.
Um mito dos Kayapó narra como ocorreu a histórica divisão dos grupos indígenas denominados Jê setentrionais, do qual os Kayapó fazem parte juntamente com os Suyá, Panará e os grupos Timbira (Apinajé, Krahô, Canela, Krikati, Gavião). Como contam os velhos, muito antigamente todos esses grupos viviam em uma mesma e grande aldeia até que uma velha foi ensinada por um rato do mato a colher, preparar e comer o milho, que naquela época dava em uma imensa árvore no meio da mata. Quando a notícia do descobrimento dessa nova e deliciosa iguaria se espalhou, os índios se juntaram em grupos e decidiram derrubar a enorme árvore para colher o milho. Trabalharam o dia inteiro e mal conseguiram cortar a metade do tronco. Decidiram voltar para a aldeia para descansar e retornar ao trabalho no dia seguinte. Quando voltaram ao local, o tronco da árvore estava intacto. Trabalharam do mesmo modo e a noite retornaram novamente a aldeia. De volta o local da grande árvore, perceberam que ela estava novamente inteira. Então decidiram só parar de trabalhar quando a árvore fosse derrubada. E assim foi. Depois de vários dias de trabalho a árvore enfim desabou e um dos grupos que trabalhava em conjunto, ao se apoderar do milho, disse: “somos kayapó”, enquanto outros disseram “somos apinayé”, e outros “somos suyá”, e outros “somos krahô” e assim foram se diferenciando e se separando até que formaram todas as etnias que compõem o grupo linguístico Jê setentrional.
Os historiadores das sociedades indígenas dizem que essa separação ocorreu há aproximadamente quatro séculos. Depois, os Kayapó passaram a viver em uma única e grande aldeia denominada Pýkatôti. De lá se dividiram em duas aldeias denominadas Kubenkankrenh e Gorotire. Dessas duas aldeias surgiram todas as outras dezenove aldeias existentes atualmente.
A aldeia Môxkàràkô se originou de dois grupos que se cindiram de outras duas aldeias maiores denominadas Aùkre e Kubenkãkrehn. Estes grupos foram conduzidos por seus chefes (Cacique Kwaikware, conduzindo o grupo de Aúkre; e cacique Akyaboro, conduzindo o grupo de Kubenkãkrehn), até um local próximo ao que estão atualmente situados. Os grupos construíram a aldeia próximo ao igarapé Tépore. Permaneceram neste local por cinco anos, quando um incêndio devastou a aldeia. Embora não tenha deixado vítimas, o incêndio de grandes proporções foi o estopim para a mudança para um outro local onde houvesse um rio maior, que não secasse durante o período de estiagem. Foi assim que reconstruíram sua aldeia às margens do Riozinho, local onde residem há mais de dez anos.
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